segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Consumo

Não vou entrar naquela discussão de que hoje é mais importante ter que ser, que de tão batida, já está chata. Também não vou listar todas as repercussões causadas por isso, porque só quando se sofre suas consequências é que se pode dizer o quão longe elas podem ir. Então, vou falar da repercussão que me atinge hoje, que com certeza não foi a que me aflingiu ontem e não será a que me aflingira amanhã. Assim seja.
Somos obrigados a consumir a todo momento, e isso inclui todos os artigos consumíveis no momento: roupa, comida, água, lazer, cultura, saúde, educação, transporte, desejo. É verdade, nós somos obrigados a consumir o desejo. Ou seja, nós compramos o desejo. Assim, o que era para ser elemento de sobrevivência, vira elemento de desejo, e se você não deseja aquilo que deve ser desejado, pois é uma necessidade, algo de errado precisa ser descoberto.
Desta forma adimito que não compro o desejo da comida, por exemplo. Claro que muitos vão me incluir no hall das anorexias, dos transtornos alimentares, talvez me enclausurar em algum ambiente onde eu não possa convencer outras pessoas que consumir comida não é a finalidade última da vida. (Não considero esta uma hipótese ruim, pois já fizeram isso com muitas pessoas com idéias aparentemente muito mais inofensivas que esta.)
Três pontos precisam ser esclaridos antes:
1- Não nego que a satisfação que a ingestão de alimentos causa de forma alguma, pois comida é sim sobrevivência, e ela(s) deve(m) ser fornecida(s) a todos;
2- nego tampouco que o padrão ideal de beleza estabelecido causem transtornos de diversas ordens;
3- Cada corpo precisa de quantidades específicas dos devidos nutrientes para se manter são.
Feitos os devidos esclarecimentos, continuo dizendo que não são todos que compram o desejo do consumo alimentar. Uma lata de brigadeiro não me faz feliz; uma feijoada não me faz feliz; um milkshake de ovomaltine do Bob's definitivamente não me faz feliz. O que me faz feliz: correr na minha linda orla e chegar em casa devorar uma melancia perfeitamente doce e gelada; acordar e comer uma bananinha no ponto e tomar um suco da fruta feito na hora; um abacaxi em calda feito pela vovó para o lanche da tarde.
"Blah, naturalista" - dirão - "não conhece os prazeres da vida", como se a vida se resumisse a seus prazeres.
Não sou naturalista, assim como não entendo porque é tão difícil aceitar a diversidade, porque somos abrigados a padronizar pessoas e comportamentos a todo momento e porque criamos arquéticos que possam servir de bode expiatório para nossa incapaciddade de igualar todos.
Claro que tenho minhas dificuldades com as diferenças e sei que em nenhum momento somos questionados sobre isso. Mas, ao invés de ficar preso a esses estereótipos, que tal começarmos a nos questionar mais sobre o que de fato (não)queremos,(não)gostamos e (não)desejamos. Talvez consigamos identificar todas aquelas características que (não)devemos perpetuar.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Hipocrisia

Somos todos hipócritas.
Novamente, inicio fazendo uma afirmação dura, para alguns - mas não é só porque ela é dura que não deve ser dita e pensada.
Não existem verdades absolutas, nem espero que um dia elas existam, mas afirmo que somos todos hipócritas.
Vivemos escondidos de nossos próprios desejos, com medo de descobrirmos o que somos e o que queremos, pois a sociedade a todo momento nos pressiona a sermos algo que muitas vezes não queremos ser, a fazer coisas que muitas vezes não queremos fazer, a sentir, desejar, olhar, optar coisas que nao queremos sentir, desejar, tampouco optar. Mas assim o fazemos. Todos os dias. E a aqueles que não fazem, lançamos nossos julgamentos, nossos olhares de reprovação, nossa hostilidade. Alguns diriam por inveja, ciúme... eu digo, alienação, talvez.
Há sempre quem diga que só faz o que quer, que respeita as diferenças, que convive bem no mundo. Esse alguem pode até de fato acreditar nisso, mas isso não faz dele menos hipócrita; para mim, pior, faz dele mais hipócrita que todos.
Aqueles que reconhecem sua hipocrisia são capazes - se quiserem (leia-se puderem) - de mudar. Entretanto, quem não é capaz de reconhecer suas prórpias limitações e se resigna em sua alienação, é o pior de todos.
Clareando um pouco nossa hipocrisia, seria algo do tipo: meu amigo é gay, mas meu irmão não; meu vizinho é louco, mas meu tio não; a prima de minha amiga é puta, mas minha mãe não.
De fato meu irmão não é gay, meu tio não é louco e minha mãe não é puta; mas se fossem, não teria problema nenhum.
Mentira.
Estamos sempre em busca de uma pseudonormalizade, de seguir padrões que nos façam aceitos nos grupos. Propagamos um discurso vazio de aceitação das diferenças - vazio porque não é assim que agimos com o diferente. Nós excluímos, ignoramos, humilhamos, detestamos e assim por diante.
Estar no lugar que diz que as coisas podem ser diferentes está muito longe de estar no lugar de fazer diferente as coisas.
Então, quem é mais hipócrita: aquele que finge saber, aqueles que finge querer ou aquele que finge fazer?

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Ociosidade.

O ócio é depressor.
Começo com uma frase bem taxativa para expressar minha indignidade contra aqueles que professam que o ócio é criativo. Criativo de quê?
Quando estamos ociosos nós somos obrigados a nos deparar com nossos próprios pensamentos e, com eles, nossos próprios fantasmas.
Descobrimos que nao somos tão bonitos quanto Rodrigo Santoro, nem tão ricos quanto Sandy, nem tão sadios quanto Giba, nem tão articulados como Boner, nem tão líderes quanto Lula. Enfim, descobrimos que não somos tão nada.
Se deparar com a realidade de nossa infineza (neologismo para alguém/algo de tamanho ínfimo) é muito doloroso. E a dor, como toda boa dor, dói.
Assim, nos deparamos com a dor de nosso corpo cansado do dia-a-dia, com a dor de nossos sonhos quase nunca realizados, com a dor de não podermos ser utópicos, com a dor de um futuro incerto e impreciso. São muitas dores para serem articuladas por um só ego. Como isso pode ser criativo?
Obviamente, não acredito que não pensar, que não se deparar com essas questões seja positivo nem seja solução de nada. Mas criativo não é.
O labor diário impelido a milhões de viventes é uma forma de não deixar que este tipo de reflexão, inevitável no ócio, seja feita e que atitudes sejjam tomadas em relação a isso. Por isso nos enchem de novelas, seriados, caras, bundas, vejas, coco, coco e mais coco (agora sem acento). Tudo para que não consigamos nos deparar com o duro pesar do ser. (Quem disse que ser era leve, definitivamente não conseguiu sustentar isso!).
Na verdade, a vida é, de fato, insustentável. A quê nos apegamos? Definitivamente, não à complexidade dos seres e a perfeita harmonia dos organismos; não há um desenvolvimento aprimorador de habilidades e adaptador de ambientes; não às normas socias que não tem conseguido cumprir bem seu papel de agregar as pessoas. Nos apegamos a algo que não podemos ver, de força maior, que tudo vê e que tudo pode. Algo que não está aqui e estão ao mesmo tempo. Algo que não está dado e está ao mesmo tempo. Nos apegamos a algo que fomos obrigados a criar que tentar sustentar o insuportável: a dor de ser insustentável.
Cada um acredita no que pode...enquanto isso, preciso arranjar ocupações laborais para aliviar minha mente.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Reforço

Eu já falei disso aqui uma vez, mas não custa reforçar.
Eu acredito nos pequenos gestos. Na verdade, não necessariamente nos pequenos, porque muitas vezes eles não são pequenos, mas nos gestos silenciosos, sutis.
Pessoas que marcam minha vida são aquela as quais eu ligo para contar que estou muito feliz, depois de ter passado um tempo muito triste,e não o contrário. Sempre tem alguém que vai ouvir nossos lamúrios e tentar afagar nossa dor. Assim como sempre vai ter alguém que vai te desejar parabéns pelo seu sucesso e te olhar de canto de olho. Mas não é todo mundo que ouve nossa felicidade e compartilha dela. Ouvir até podem, compartilhar é mais difícil.
Serei mais explícitta: dedico este post a uma amiga, que ouviu toda a minha dor, e agora compatilha de minha felicidade. E eu tenho certeza que compartilha sinceramente. E ela não precisou deixar depoimentos no orkut, ou atender telefonemas de madrugada, ou qualquer coisa do gênero. Ela só precisou esar ali, dividir comigo experiências e esperar, ao meu lado, o momento passar. Porque, por mais que pareça que não tenha fim, o tempo sempre passa.
Obrigada, de novo, amiga, pela força e pelo tempo doados com preocupação, carinho e sinceridade. Tenha certeza de que é recíproco.

"Se eu saísse correndo, gritando, cantanddo 'é fogo'
num pulo a colméia inteira vinha
(...)
Vai valer então, vai valer" (Herbert Vianna)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Solidão

Eu não acredito em deus. Acho que isto já está mais que claro. Nós ficamos inventando essas coisas para não nos depararmos com o fato de que somos sós. Até tentamos nos relacionar durante a vida para aplacar este sentimento, mas no fundo estamos sós, e morremos sozinhos.
Há quem diga que também nascemos sozinhos. Eu descordo. Para a maioria das pessoas, o nascimento é cheio de gente, alegria, expectativas etc. Assim que saímos da escuridão, todos querem te carregar, apertar a bochecha bla bla bla.
Mas na morte não é assim. Não há ninguém "lá" te esperando. Não há nada, aliás. E essa sensação de solidão na finitude, que poucos conseguem suportar, e recorrem a deus.
Não é atoa que deus está quase sempre no lugar da dor.
Eu poderia inventar uma teoria religiosa, já que me ocorreu agora.
Na teoria, todos os seres vivos passam por duas grandes passagens na vida: o nascimento e a morte. (Vou reduzí-la aos humanos, porque os outros seres vivos são subjulgados nas religiões). Mas, poderíamos pensar a vida (ou a espiritualidade, se quiserem) como uma única passagem - da morte para a vida.
No momento em que morremos, sozinhos, e perdemos consciência do nosso corpo, nós caímos em um buraco negro e imediatamente depois saímos em outra dimensão do tempo/espaço, onde estamos acabando de nascer, sendo esperado por diversas pessoas. Assim, a morte não seria mais o fim, sim uma passagem para uma nova vida real, e não espiritual.
Se dormimos para acordar, morremos para nascer. Ainda não acabei com a existência de deus, porque a vida ainda é solitária; entretanto tirei um bom poder dele, pois a morte deixou de ser.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

As pequenas coisas

Eu sempre achei os pequenos gestos de um dia comum é que são capazes de fazer efeito na vida do outro.
Escândalos e choros são sempre motivos de atração para o espetáculo, e eu não gosto de espetáculo. Se sabe quem gosta de você por aquele que está ali, vendo que seu sorriso mudou, que seu olhar brilha em outro sentido. Aquele que deixa uma balinha em sua mesa, ou espera seu ônibus no ponto com você, só para não deixá-lo(a) sozinho(a).
São essas pequenas coisas que vão marcando o coração, que vão dando significado a uma relação.
Um dia desses, uma pessoa estava em um momento delicado, mas, ainda assim, insistiu em honrar seu compromisso comigo. Eu teria entendido perfeitamente se ela não fosse, mas ela foi, e isto eu não posso esquecer mais; não porque me beneficiou de algum modo, mas porque ela se preocupou, e é este o valor que eu dou às coisas.
Tirar uma dúvida de um colega no cantinho é diferente de fazer um comentário extraordinário em uma aula; sentar ao lado de uma pessoa que está em dor só para fazê-la companhia é diferente de querer saber o motivo do choro; dar bom-dia é diferente de dar tchau.
Apesar de aniversário ser um espetáculo, eu gosto que me liguem. Eu não tenho grandes atrativos para que outros possam querer se aproveitar muito de mim, então me lgia quem eu sei que se importa. Talvez não, também. Eu sei que tem gente que se importa muito, mas esquece. Mas eu acho que custa tão pouco tudo, tempo, dinheiro, vontade, que só dizer.."oi, parabens viu?" vale muito. E eu aprecio muito.
Eu acho sim que devemos dar mais valor a essas coisinhas da vida. Teremos relações muito mais sinceras e fortes quando isso acontecer. Se é mesmo que queremos este tipo de coisa...

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Alternativa

Eu queria muito escrever sobre uma coisa, e já tinha elaborado algo em relação a ela, mas outro assunto tem demandado atenção agora.
Eu não me considero uma pessoa "modinha". Eu não sou do tipo que compra um roupa ou lê um livro porque está na moda. Pelo contrário, as vezes eu não compro uma roupa que gosto ou não leio um livro que pode ou não ser bom, só porque está na moda. O que no fundo, no fundo, é exatamente o mesmo erro, mas ainda preciso trabalhar isso melhor.
Está na moda gostar de pobre. Todo mundo agora faz trabalho social, voluntariado. É um tal de mandar emails divulgando ONGs, lares acolhedores etc etc etc.
Responsabilidade social é o que há de mais importante entre as responsabilidades, porque a partir do momento que você se preocupa com o bem-estar do outro, você cumpre com suas resposabilidades. Todo mundo deveria assumir sua culpa pelo estado em que as coisas se encontram e, com isso, assumir sua responsabilidade na mudança do todo.
O problema é que isso virou modinha.
Toda empresa agora tem responsabilidade social, ambiental, moral blá, blá, blá. Não porque é importante, não porque existem pessoas que sofrem, não porque nada, mas porque dá mais lucro. Aí passa a existir uma pregação geral de responsabilização que é meramente midiática e ilustrativa. E passamos a achar que reciclar o lixo e dar dinheiro pro menino que faz malabares no semáforo nos dará um lugarzinho no céu. Reciclar o lixo é importantíssimo, afinal existem pessoas que vivem da reciclagem de material, de fato. Mas dar dinheiro para a criança é pedir pelo amor de deus que ele continue ali para que eu possa continuar dando dinheiro para ele e me sentir aliviada porque faço minha parte. Isso não pode continuar assim.
Partindo desta perspectiva, o governo, que tem do DEVER a responsabilidade social, delega sua responsabilidade a estudantes mal assistidos para que eles finjam, tão bem quanto ele, que se importam com os mais necessitados.
Qual é a efetividade e a durabilidade das mudanças propostas por um programa de 2 anos de duração no qual os estagiários só precisam ir UMA TARDE na semana na comunidade?
Brincamos todos de nos reunir e planejar atividades inócuas e depois comentar com a família como foi boa a atividade, como somos bons para a sociedade, para o coletivo.
Desta brincadeira eu não quero mais participar. É muito cansativo brincar sempre do mesmo jogo. Quero brincar de outra coisa. Quero brincar com quem se importa de verdade.
Eu sei que eu não posso parar de lutar porque minha luta está na moda, assim como eu não posso parar de ler Saramago porque está exposto na porta da Saraiva. Mas eu não quero ninguém dizendo que "Ensaio sobre a cegueira" "é lindo!" só porque nos negamos a ver a barbárie.
Acho que, na verdade, o que eu preciso é encontrar um sentido para as coisas, se é que elas têm um.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Perspectiva

De volta à vida normal e ao raciocínio eloquênte, conseguir enxergar as diferentes perspectivas que podem existir acerca de um fato.
As perspectivas observadas de hoje serão a partir de uns assaltos que sofri em um curto intervalo de tempo.
Primeiro, como não poderia deixar de ser, acreditei que estas coisas acontecem, e vêm acontecendo com cada vez mais frequência devido a absurda desigualdade social em que vivemos. Se de fato existisse democracia, igualdade de oportunidades etc etc etc, teríamos uma sociedade muito menos violenta e angustiante.
Como consequência, cri que aumento no policiamento da cidade não iria resolver nenhum dos problemas e ainda iria aumentar a angústia diária que somos obrigados a sentir quando saimos de casa. Não se combate violência com mais violência, já que o disparador da violência é a própria violência (não dar direito à moradia, trablho, dignidade, alimentação, sobrevivência, aquelas coisinhas básicas que não podemos viver sem) - negar tais direitos a qualquer pessoa é a maior violência que se pode infringir a alguém.
Como segunda opção, podemos tirar um pouco de nossa responsabilidade (social) e jogá-la no sujeito-ação. Ele, dentro das poucas escolhas que tinha, escolheu ser ladrão, roubar e tal. A culpa não é toda dele, tadinho, porque ele não tem mãe, ou não tem pai, ou não tem qualquer coisa que pudesse instruir o caráter dele corretamente. Como já está corrompido seu caráter, podemos instaurar a pena de morte, e continuar com esta onda de violência que não tem mais fim.
Nesta opção, eu prefiro não acreditar.
Como última oção citada aqui, e como forma de nos isentar totalmente de qualquer responabilidade social, mas como pessoas de bom coração que somos, assumir toda a responsabilidade do fato para nós, podemos simplesmente achar que somos azarados, afinal, essas coisas não acontecem com todo mundo, somente com os azarados. Eu poderia ter saído um minuto mais cedo do restaurante, ou ter ficado um minuto a mais na festa, ou blá blá blá, ou lá lá lá, mas não, azarada como sou, não tinha jeito. A salução é tão simples quanto o problema: banhos de folha. Ah, não ha nada como banhos de folha, revigoram a alma, tiram as coisas ruins e devolvem nossa sorte. Como seria bom se todos os nossos problemas pudessem ser resolvidos como esse.
Então, licença, mas tenho que ir ali comprar umas folhas, pelo menos este problema já está resolvido. Os outros eu vejo mais tarde.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Dor de quem fica II

A saudade doi de fato. Não é sentir falta, esperar a volta, querer ver simplesmente. É dor. E doi.
O peito aperta, o coração acelera, parece que não dá mais para aguentar. E nada acalenta. Nem a noite, nem o dia, nem a esperança da volta, porque a volta é sempre longe demais para quem sente a dor.
Eu não sabia que era assim. Talvez nunca tivesse sentido saudade, que é uma hipótese tão boa quanto a outra, a de talvez nunca ter amado tanto.
Esse amor nunca me doeu, nunca me machucou, e sua falta é dilacerante quando tudo que se quer é o aconchego dos braços macios e calorosos e tudo que se tem é o vazio.
Nós somos um, mas não estamos um ainda, e essa temporalidade do ser/estar na língua protuguesa é que nos parte a alma: o de querer ser enquanto ainda não se pode estar.
Volta logo, meu bem, que esta saudade já não cabe mais em mim.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dor de quem fica

Já sinto tanto a falta dele. Parece que foi alguém de minha família. Afinal, ele sempre esteve presente. Sempre atual, fazendo seus comentários irreverentes na televisão, nos jornais. Sempre com uma resposta na ponta da língua, e um livro no forno.
E foi assim que nos deixou. Inesperadamente e com um livro do forno. Um livro que eu ansiaria a chegada, que ganharia vários de ppresente por pedir a todos a mesma coisa, que me deleitaria e me divirtiria. Porque, mesmo nos mais densos, há humor. Humor de poucos, confesso, mas meu humor.
Mas assim como a saudade, a morte também é a dor de quem fica. Já não choro tanto, mas sinto a falta.
Hoje uma colega em sala anunciou que ia ler uma crônica de Rubem Alves. "Que bom, adoooro Rubem Alves", pensei. Então me veio sua imagem em minha mente e voltei a pensar "tenho que aproveitar mais ele, antes que se vá". Não estava agorando Rubem, claro que não. Mas, (in)felizmente, este é o destino de todos. "In" para os que ficam, feliz para os que vão. E quero aproveitá-lo mais, para não ter dor ao dizer que nunca o (ou)vi pessoalmente.
Mas meu Saramago não se foi por completo. Deixou muitas coisas para mim, escreveu muito para mim, e lhe sou grata por isso. Não gosto de santificar pessoas que morrem. Fazia isso quando ele era vivo. Sempre foi claro que era meu predileto, e continuará sendo, já que não pode mais me decepcionar.
Meu orgulho: defendia sempre as minorias. Que seja reconhecido.
Mas não se preocupe, meu querido, "el tiempo nos igualará".

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago

Eu não posso deixar de chorar a morte de Saramago. Como poderia?
Alguém com quem tanto aprendi, alguém que tanto fiz questão de ler para um outro qualquer. Alguém que entendia o que eu pensava.
Saramago, que desde cedo me fez refletir sobre o mundo, me fez sair desta inércia que nos deixamos cair com frequência.
Um homem que sempre nos forçava a nos questionarmos, a repensarmos certas práticas, certos valores, cetas moralidades. Ele, que sempre concordou comigo que criamos um deus a nossa imagem e semelhança e, por isso, um deus tão cruel.
Não, eu não posso deixar de chorar a morte deste homem que me fez pensar qual era a minha cegueira e qual era meu papel nessa história toda. Alguem que me prendeu três inteiros dias pela primeira vez. Ele que me fez passar por todos os sentimentos com suas palavras fortes e delicadas. Me fez ter raiva desse deus cruel; me fez rir com um elefante inocente; me chorar com o amor da morte; me fez cozer azulejos; me fez ter tantos nomes; me fez duplicada; me fez tantar ouvir o sino da injustiça e ainda me fará muito mais através de tudo que ainda não li.
Saramago me encanta de todas as formas. Me desassossega de uma maneira que eu só posso agradecer.
Saramago, a quem eu tanto adimiro e agradeço.

Sim, eu não posso deixar de chorar a morte de José Saramago.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O amor

Ontem, perdida em pensamentos, notei que a conjugação da primeira pessoa do plural do verbo amar é igual tanto no presente do indicativo quanto no pretérito perfeito. Ou seja, nós amamos sempre. Já teve um acento diferencial entre esses dois tempo, mas ele era tão insignificante no amor que se foi.
Não existe passado no amor. (Há quem diga que não há presente, mas eu não sou dos pessimistas.) O amor, aquilo que se compartilha com o outro, é sempre presente. Nós amamos. Nós nos amamos. Agora.
Talvez seja essa a chave para não se temer a morte do amor. Porque ele não morre, ele continua. O que pode morrer são os sonhos, a esperança, mas nunca o amor. Com o amor que morre a solidão, a dor, a tristeza, porque amor que dói não é amor.
Amor é o que faz bem, o que completa, o que alegra. É a troca, a cumplicidade, é o um.
Assim, amor, lhe digo: nos amamos sempre no tempo presente.

domingo, 23 de maio de 2010

Tempo

Bobos aqueles que se afobam dizendo que não há mais volta para nós, que o aquecimento global já passou dos limites, que já usamos nossos recusos naturais demasiadamente etc.
Bem verdade que fizemos tudo isso, mas nunca há volta. Nunca. Cada passo que damos, cada escolhas que fazemos é um "cada" único. Não existe um "ctrl z" que possamos apertar e desfazer nosso movimento. Nossos movimentos são sempre ascendentes, por isso nunca é tarde demais.
Seria tarde demais se tivéssemos um tempo para voltar atrás. (In)Felizmente Einstein não conseguiu descobrir como isso seria possível.
Como seria se pudéssemos, dentro do campo espaço-tempo-futuro, nos matar no passado antes de termos entrado nele?
Assim é o meio-ambiente, o petróleo, o clima. Tempo ascendente. Reduzir consumo não é mais útil, porque somos cada vez mais em número. Movimento ascendente. Temos que descobrir formas de burlar os efeitos da degradação ambiental e não tentar parar com isso, porque "isso" não pára. Tecnologia ascendente.
Temos que projetar o futuro. O passado não volta. Não é clichê, é física.
Quanto às decisões erradas, que fiquem lá.
Quanto a nós, meu amor, movimento ascendente.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Aprendizado

Hoje eu aprendi que não importa o tamanho do medo que tenhamos para realizar nossos sonhos. Importa é confiar que ele vai dar certo, e se entregar.

Hoje, estou entregue.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Dos tempos de hoje

Aconteceu algo parecido comigo um dia, dentro da Universidade, mas esta mesma moça franzina, trôpega e trêmula já não mais pedia por comida, nem para si, tampouco para seu filho. Ela rogava pelo amor que há em deus para que alguém levasse seu filho para o hospital porque ele iria morrer se passasse mais um dia sem hemodiálise; um menino que 7 anos, que não podia mais entrar pela porta da frente do ônibus, não tinha recursos para ir ao hospital.
Passei 30 minutos com ela pensando em uma solução, se não havia ninguém dentro da Universidade que transportasse doentes que não tivessem condições de ir ao hospital. Não encontrei. Dei poucos R$20,00 a ela, para que pudesse levá-lo ao menos cinco vezes ao hospital, antes que ela tivesse que voltar as ruas a pedir. Ela não podia se conter em si. Nem eu. Não fui mais a aula. Quanto (em dinheiro) vale a vida de uma pessoa? O que estamos fazendo com isso?
É preciso ressaltar que essa moça nunca me pediu dinheiro. O que ela me pediu foi ajuda. E foi isso que eu não pude dar a ela. Ajuda. Ela me olhou nos olhos implorando uma providência. Seu filho morria. E foi isso que eu não pude dar a ela: ajuda.
Chorei o dia todo e tenho de volta o nó na garganta e as lágrimas nos olhos. Lucas, era seu filho. Quantos mais serão? Por quanto tempo mais permitiremos isso?
A luta desta mulher não acabou ali, a não vai acabar. Ela tem que lutar por sua vida e pela de seu filho todos os dias. E no dia que ela cansar, se vão os dois.
"O mundo é bárbaro. E o que nós temos a ver com isso?" Veríssimo.

A notícia boa que trago é que fui selecionada como bolsista do PET-saúde aqui de Salvador. Trabalharemos com o PSF, nas Unidades de Saúde da Família no Subúrbio Ferroviário daqui. É um subúrbio muito grande (olhem no google) e teremos acesso a várias comunidades.

"Sou viramundo virado,
nas rondas das maravilhas,
cortando a faca e facão os desatinos da vida,
gritando para assustar a coragem da inimiga,
pulando para não ser preso pelas cadeias da intriga,
prefiro ter toda a vida a vida como inimiga
a ter na morte da vida minha sorte decidida.

Sou viramundo virado pelo mundo do sertão,
MAS AINDA VIRO ESTE MUNDO EM FESTA, TRABALHO E PÃO,
virado será o mundo e viramundo verão
o virador deste mundo astuto, mau e ladrão,
ser virado pelo mundo que virou com certidão,
AINDA VIRO ESTE MUNDO EM FESTA, TRABALHO E PÃO."

Letra da música Viramundo de Gilberto Gil.


Laís, continua na luta.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Hermanos

Hoy escribo en español para contemplar nuestros compañeros latinos.
Hoy participé de una palestra con Aleida Guevara, “Cuba, Brasil e América Latina”,. Fue muy buena, es que me tembla el corazón cuado oigo álguien hablando español, es que mi corazón es latino...no hay como negarlo.
Ella dijo que socialismo es cuando un pueblo controla los medios de produción y las ganancias se vuelven a su proprio pueblo. No tiene nada que ver con comer chicos, o matar persona, o vestirse de rojo. Una sociedad diferente es posible. No quiero que lleven mi libertad, ni que me tomen mi casa, nada de esto... solo quiero que las personas no mueran más de hambre, que se tengan medicos dedicados, interesados en atender su pueblo, que se importen con ellos. Solo quiero que chicos no mueran más de desintería, o de sed. Educación es un derecho. Salud es un derecho. Y tenemos que luchar por eso.
Aleida dijo que no va a dejar que entren en su país y tomen lo que es de ellos y que ella esta preparada politicamente y militarmente para enfrentar estas personas. Nosotros aún no sabemos que significa eso porque vivimos en una cultura totalmente diferente, no sabemos lo que es sobrevivir con un bloqueo económico. Nosotros creyemos que tenemos que ser pacíficos, que quanto más violento somos, más violencia se cria. Seguro que sí. Pero, existe algo más violento que no tener dignidad? que morir literalmente de hambre? que no tener dinero para comprar un medicamiento que habria que tener en el hospital? La violéncia psíquica y emocional que sofremos todos los días nos mata poco a poco, y no percebemos eso. No podemos dejar que nos lleven todo lo que tenemos, todo que produzimos. Es que no podemos más con eso. Y tampoco podemos aceptar caridades, asistencialismos, necesitamos de políticas que no hagan autónomos, que seamos donos de nuestras próprias produciones. Es de esto que precisamos. No de armas, no de hambre, no de corrupción, no de todas cosas malas que se os dan todos los días.
Fuerza compañeros, precisamos ir a lucha! Y vamos juntos!

terça-feira, 9 de março de 2010

Frase do dia

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe as faces e me faz corar
E que me salta os olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo e me faz implorar
O não tem medida nem nunca terá
O que não tem remédio nem nunca terá
O que não tem receita.

O que será que será
Que dá dentro da gente que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrandos, toda alquimia
Que nem todos os santos

Será que será
O que não tem descanço nem nunca terá
O que não tem cansaço nem nunca terá
O que não tem limite.

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
E todos os tremores me vêm agitar
E todos os suores me vêm encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz suplicar

O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem juízo.

(Francisco Buarque de Hollanda)

quinta-feira, 4 de março de 2010

Eu não sei aonde vamos parar. Não sei mais até que ponto pode chegar a alienação social de alguem. Um ser me disse ontem que a pessoa que trabalha em sua casa estava muito doente e que só conseguira marcar o exame que precisa fazer para daqui a um ano. Ele, que gosta muito desta pessoa, vai conversar com não-sei-quem que conhece não-sei-quem-lá de não-sei-onde para tentar marcar seu exame mais cedo (será que consegue para 9 meses?!?!). Ao indagá-lo que não seria justo com a pessoa que marcou o exame para daqui a 11 meses, ouvi a solene resposta "a gente vai ajudando quem pode". Muito doce. Me mobilizou. Me mobilizou como que se pode ser tão idiota, tão simplista e tão inconsciente da realidade do SUS. Como que alguém acha que colocar uma pessoa na frente da outra vai ajudar em alguma coisa???? E quando ela precisar de outro exame, o que será feito? E se a pessoa que estiver na frente dela morrer antes por falta de atendimento?
Nosso sistema de saúde pública é precário e ninguém precisa dizer isso para que se saiba (apesar de que quem não o utiliza não sabe de fato o que é isso; não sabe o que é chegar 5:00 da manhã para pegar um ficha para marcar uma consulta para daqui a 3 meses, sendo que o atendimento é por ordem de chegada, e o médico mal-pago e mal-engajado com a situação, ao invés de chegar às 8:00, chaga às 11:00; não quem não passa por isso não sabe o que é, acha que as pessoas não vão ao médico por falta de informação, mas não é disso que estamos falando). Voltando, se alguém quiser mesmo ajudar essa pessoa a fazer seu exame logo deve pressionar a Secretaria de Saúde a comprar novos aparelhos, a dar manutenção nos que já tem, deve tirar a bunda da cadeira e correr atrás. O que não pode é passar pessoas na frente, aumentando os riscos de morte de outros, achando que está fazendo uma boa ação.
Mas, é verdade, não posso negar que é muito mais fácil achar que o sistema de saúde público brasileiro é ineficiente e que não se pode fazer nada.
Sociedade não existe, política não existe; são apenas conceitos abstratos criados pelas mesmas pessoas que fazem parte desta sociedade e agem politicamente.
Vamos ser honestos consigo mesmos e vamos admitir que se quisermos fazer alguma coisa de verdade para modificar nossa organização social, vamos ter que nos esforçar pelo menos um pouco.

terça-feira, 2 de março de 2010

Nossas escolhas.

Nós fazemos escolhas todas as horas do nosso dia. Que roupa usamos, que comida comemos, que hora saímos, etc etc etc. Nós também escolhamos o que vemos, o que lembramos. Temos uma memória subversiva que apaga de nosso cérebro que vemos pessoas que dormem na rua, que comem lixo, que não são abraçadas por ninguém em momento algum. Mas isso também é uma escolha nossa. Escolhemos não fazer nada, não porque não queremos, porque não há nenhum sádico aqui querendo ver o outro sofrer não, mas porque sozinhos não temos força. Escolhemos acreditar nisso. Escolhemos acreditar que ninguém mais tem a caixinha preta nas mãos.
Escolhemos nossos amigos, escolhemos ouvi-los ou não, escolhemos a preguiça, o cansaço do dia-a-dia em detrimento à redução da dor do outro. Enfim, somos seres de escolhas, por isso, atuantes. Podemos, também, sermos seres das escolhas do outro. Podemos sim, porque não. Mas obviamente que isto também é uma escolha sua.


Sim, você fez uma escolha. Até quando será um papagaio que tem voz?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

De volta à terra.

Eu não voltei outra pessoa, eu não mudei nem aprendi teorias novas sobre a realidade. Mas, sim, eu voltei uma pessoa mais forte, com a alma renovada. Sou novamente alguém com esperança, sem medo de lutar sozinha.
A minha esperança não é a de mudar o mundo nem de encontrar pessoas que queiram o mesmo que eu... mas se elas aparecerem, serão muito bem acolhidas. O que aflorou em mim foi o desejo de procurar aqueles que precisam de alguma coisa que eu possa oferecer, foi de saber que eu tenho o poder de fazer sozinha, se eu quiser.
Ouvi muitas histórias de vida muito duras, ouvi coisas que não são adimissíveis a nenhum ser vivo, ouvi palavras que espero que me emocionem pro resto da vida; não admito que alguem possa se acostumar a ver pessoas dormindo no chão todos os dias...
Ganhei um anel de Tucum que marca o compromisso com a atividade social. Quero honrá-lo.
"Eu vou gritar, nem que seja sozinho" - ouvi de um militante do MST, assentado do assentamento Zumbi dos Palmares, no município de Marí-PB. Faço destas minhas palavras.


"Virado será o mundo."

domingo, 17 de janeiro de 2010

Carta de intenção

"Eu me chamo Laís Flores, tenho 21 anos e estou iniciando o quarto semestre da faculdade de psicologia na UFBA. Eu sou classe média, nunca me faltou nada. Estou estagiando na Secretaria de Administração da Bahia (Saeb) na Diretoria de Desenvolvimento de Pessoas (DDE), com capacitação dos servidores de todo o Estado.

Moro em um bairro relativamente tranqüilo de Salvador, em que todos os dias cerca de três ou quatro pessoas vêm catar o lixo dos prédios da redondeza. É muito difícil para mim me deparar todos os dias com crianças desde os três anos de idade jogando malabares no semáforo e pedindo dinheiro, e chegar em casa ter uma pessoa catando seu lixo para tentar sobreviver.

A realidade que eu vivo é, provavelmente, a mesma de todos os brasileiros: de extrema desigualdade social e infinito desprezo pelas pessoas mais necessitadas. O meu maior sentimento em relação a esta realidade é o de impotência: por não ter dinheiro para montar um projeto social auto-sustentável; por não ter apoio de colegas nem de familiares ao propor alguma atitude individual que seja; e por uma infinidade de fatores.

Ou seja, a minha inserção é igual a de muitos outros, uma observadora passiva da realidade.

Minha primeira experiência de fato com comunidade foi em um projeto de extensão da Universidade chamado de ACC (atividade curricular em comunidade). O nome da ACC era “Ações interdisciplinares em áreas de reforma agrária” e atuava em três assentamentos de Santo Amaro, interior da Bahia. Realizamos algumas oficinas com eles, tanto com as crianças quanto com os adultos, fizemos a festa dos sem-terrinha, no qual eles preparavam algo para apresentar, como danças, encenações etc.

Em seguida participei de um projeto de comunicação infantil Brasil-Venezuela, no qual eram feitos trabalhos simultâneos com a Comunidade do Unhão (Salvador, Brasil) e com a Comunidade de Tapipa (Tapipa, Venezuela). Tapipa é uma comunidade afro-descendente do interior da Venezuela, e o objetivo do projeto era de estabelecer um elo entre as duas comunidades a partir das semelhanças entre elas. O trabalho foi feito com crianças e adolescentes.

Em outro trabalho, realizado a partir de uma parceria entre o Casa Brasil (projeto social de inclusão digital do Cnpq) e a Organização do Auxílio Fraterno (OAF – abrigo para crianças e adolescentes em Salvador), dei um curso de dança para três turmas de crianças e adolescentes residentes do abrigo e da comunidade, que variavam entre 4 e 14 anos. Este projeto ofereceu aos participantes cursos de dança, teatro, artes visuais e literatura e cinema.

Tomei conhecimento do ENVEPOP através do meu email pessoal, encaminhado por uma colega de curso. Ao descobrir que era um estágio de vivência em comunidade, automaticamente despertei o interesse em participar e fui ler a respeito, assistir aos vídeos, o que aumentou ainda mais minha vontade de participar do grupo. Eu adoro trabalhar com comunidade, minha área de interesse é em Psicologia Comunitária, e acredito que quanto mais vivência eu tenha nesta área, melhor será a minha prática, pois, para mim, conhecimento sem prática não é efetivo. Nosso país ainda está repleto de pessoas desassistidas e é necessário que seja feito algo por elas urgentemente; e somos nós, estudantes, jovens, de barriga cheia, ainda cheios de coragem, que temos que nos esforçar para dar alguma assistência a estas pessoas.

As minhas expectativas em relação ao ENVEPOP são as melhores: de poder atuar efetivamente em uma comunidade, de poder estudar a respeito dos fatores que envolvem a permanência destas pessoas em estados de grande carência sócio-econômica; de entender melhor as questões que levam a estratificação da nossa sociedade, dentre todas as questões que serão trabalhadas neste Estágio de Vivência.

Para mim, teoria e prática são dois fatores indissociáveis: a prática enriquece a teoria e a teoria faz da prática uma práxis. Desta forma, este Estágio de Vivência vai contribuir muito para a minha formação profissional, pois me dará subsídios teóricos para agir em campo e alimentará a minha teoria com a atividade. Acredito que os próximos trabalhos que farei serão muito mais ricos em elaboração e em execução por conta desta nova experiência que acumularei.

Assim, é por todas estas questões apresentadas que eu tenho muito interesse em participar deste ENVEPOP."

A minha intenção é mudar o mundo. Quantas intenções mais serão necessárias para que possamos parar de morrer de fome?