sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago

Eu não posso deixar de chorar a morte de Saramago. Como poderia?
Alguém com quem tanto aprendi, alguém que tanto fiz questão de ler para um outro qualquer. Alguém que entendia o que eu pensava.
Saramago, que desde cedo me fez refletir sobre o mundo, me fez sair desta inércia que nos deixamos cair com frequência.
Um homem que sempre nos forçava a nos questionarmos, a repensarmos certas práticas, certos valores, cetas moralidades. Ele, que sempre concordou comigo que criamos um deus a nossa imagem e semelhança e, por isso, um deus tão cruel.
Não, eu não posso deixar de chorar a morte deste homem que me fez pensar qual era a minha cegueira e qual era meu papel nessa história toda. Alguem que me prendeu três inteiros dias pela primeira vez. Ele que me fez passar por todos os sentimentos com suas palavras fortes e delicadas. Me fez ter raiva desse deus cruel; me fez rir com um elefante inocente; me chorar com o amor da morte; me fez cozer azulejos; me fez ter tantos nomes; me fez duplicada; me fez tantar ouvir o sino da injustiça e ainda me fará muito mais através de tudo que ainda não li.
Saramago me encanta de todas as formas. Me desassossega de uma maneira que eu só posso agradecer.
Saramago, a quem eu tanto adimiro e agradeço.

Sim, eu não posso deixar de chorar a morte de José Saramago.

Um comentário:

  1. E eu não pude deixar de pensar que o Saramago que morreu foi mesmo o seu Saramago. Aquele Saramago por quem tenho um carinho por tabela, só porque você semeava em mim as melhores ideias dele.
    As ideias dele que nunca consegui acompanhar...
    Aquela falta de vírgula, aquele texto denso, aquela pontuação que respirava sempre diferente de mim...

    Só pude pensar: morreu o Saramago de Lai. =~

    ;*

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