domingo, 17 de janeiro de 2010

Carta de intenção

"Eu me chamo Laís Flores, tenho 21 anos e estou iniciando o quarto semestre da faculdade de psicologia na UFBA. Eu sou classe média, nunca me faltou nada. Estou estagiando na Secretaria de Administração da Bahia (Saeb) na Diretoria de Desenvolvimento de Pessoas (DDE), com capacitação dos servidores de todo o Estado.

Moro em um bairro relativamente tranqüilo de Salvador, em que todos os dias cerca de três ou quatro pessoas vêm catar o lixo dos prédios da redondeza. É muito difícil para mim me deparar todos os dias com crianças desde os três anos de idade jogando malabares no semáforo e pedindo dinheiro, e chegar em casa ter uma pessoa catando seu lixo para tentar sobreviver.

A realidade que eu vivo é, provavelmente, a mesma de todos os brasileiros: de extrema desigualdade social e infinito desprezo pelas pessoas mais necessitadas. O meu maior sentimento em relação a esta realidade é o de impotência: por não ter dinheiro para montar um projeto social auto-sustentável; por não ter apoio de colegas nem de familiares ao propor alguma atitude individual que seja; e por uma infinidade de fatores.

Ou seja, a minha inserção é igual a de muitos outros, uma observadora passiva da realidade.

Minha primeira experiência de fato com comunidade foi em um projeto de extensão da Universidade chamado de ACC (atividade curricular em comunidade). O nome da ACC era “Ações interdisciplinares em áreas de reforma agrária” e atuava em três assentamentos de Santo Amaro, interior da Bahia. Realizamos algumas oficinas com eles, tanto com as crianças quanto com os adultos, fizemos a festa dos sem-terrinha, no qual eles preparavam algo para apresentar, como danças, encenações etc.

Em seguida participei de um projeto de comunicação infantil Brasil-Venezuela, no qual eram feitos trabalhos simultâneos com a Comunidade do Unhão (Salvador, Brasil) e com a Comunidade de Tapipa (Tapipa, Venezuela). Tapipa é uma comunidade afro-descendente do interior da Venezuela, e o objetivo do projeto era de estabelecer um elo entre as duas comunidades a partir das semelhanças entre elas. O trabalho foi feito com crianças e adolescentes.

Em outro trabalho, realizado a partir de uma parceria entre o Casa Brasil (projeto social de inclusão digital do Cnpq) e a Organização do Auxílio Fraterno (OAF – abrigo para crianças e adolescentes em Salvador), dei um curso de dança para três turmas de crianças e adolescentes residentes do abrigo e da comunidade, que variavam entre 4 e 14 anos. Este projeto ofereceu aos participantes cursos de dança, teatro, artes visuais e literatura e cinema.

Tomei conhecimento do ENVEPOP através do meu email pessoal, encaminhado por uma colega de curso. Ao descobrir que era um estágio de vivência em comunidade, automaticamente despertei o interesse em participar e fui ler a respeito, assistir aos vídeos, o que aumentou ainda mais minha vontade de participar do grupo. Eu adoro trabalhar com comunidade, minha área de interesse é em Psicologia Comunitária, e acredito que quanto mais vivência eu tenha nesta área, melhor será a minha prática, pois, para mim, conhecimento sem prática não é efetivo. Nosso país ainda está repleto de pessoas desassistidas e é necessário que seja feito algo por elas urgentemente; e somos nós, estudantes, jovens, de barriga cheia, ainda cheios de coragem, que temos que nos esforçar para dar alguma assistência a estas pessoas.

As minhas expectativas em relação ao ENVEPOP são as melhores: de poder atuar efetivamente em uma comunidade, de poder estudar a respeito dos fatores que envolvem a permanência destas pessoas em estados de grande carência sócio-econômica; de entender melhor as questões que levam a estratificação da nossa sociedade, dentre todas as questões que serão trabalhadas neste Estágio de Vivência.

Para mim, teoria e prática são dois fatores indissociáveis: a prática enriquece a teoria e a teoria faz da prática uma práxis. Desta forma, este Estágio de Vivência vai contribuir muito para a minha formação profissional, pois me dará subsídios teóricos para agir em campo e alimentará a minha teoria com a atividade. Acredito que os próximos trabalhos que farei serão muito mais ricos em elaboração e em execução por conta desta nova experiência que acumularei.

Assim, é por todas estas questões apresentadas que eu tenho muito interesse em participar deste ENVEPOP."

A minha intenção é mudar o mundo. Quantas intenções mais serão necessárias para que possamos parar de morrer de fome?