segunda-feira, 22 de março de 2010

Dos tempos de hoje

Aconteceu algo parecido comigo um dia, dentro da Universidade, mas esta mesma moça franzina, trôpega e trêmula já não mais pedia por comida, nem para si, tampouco para seu filho. Ela rogava pelo amor que há em deus para que alguém levasse seu filho para o hospital porque ele iria morrer se passasse mais um dia sem hemodiálise; um menino que 7 anos, que não podia mais entrar pela porta da frente do ônibus, não tinha recursos para ir ao hospital.
Passei 30 minutos com ela pensando em uma solução, se não havia ninguém dentro da Universidade que transportasse doentes que não tivessem condições de ir ao hospital. Não encontrei. Dei poucos R$20,00 a ela, para que pudesse levá-lo ao menos cinco vezes ao hospital, antes que ela tivesse que voltar as ruas a pedir. Ela não podia se conter em si. Nem eu. Não fui mais a aula. Quanto (em dinheiro) vale a vida de uma pessoa? O que estamos fazendo com isso?
É preciso ressaltar que essa moça nunca me pediu dinheiro. O que ela me pediu foi ajuda. E foi isso que eu não pude dar a ela. Ajuda. Ela me olhou nos olhos implorando uma providência. Seu filho morria. E foi isso que eu não pude dar a ela: ajuda.
Chorei o dia todo e tenho de volta o nó na garganta e as lágrimas nos olhos. Lucas, era seu filho. Quantos mais serão? Por quanto tempo mais permitiremos isso?
A luta desta mulher não acabou ali, a não vai acabar. Ela tem que lutar por sua vida e pela de seu filho todos os dias. E no dia que ela cansar, se vão os dois.
"O mundo é bárbaro. E o que nós temos a ver com isso?" Veríssimo.

A notícia boa que trago é que fui selecionada como bolsista do PET-saúde aqui de Salvador. Trabalharemos com o PSF, nas Unidades de Saúde da Família no Subúrbio Ferroviário daqui. É um subúrbio muito grande (olhem no google) e teremos acesso a várias comunidades.

"Sou viramundo virado,
nas rondas das maravilhas,
cortando a faca e facão os desatinos da vida,
gritando para assustar a coragem da inimiga,
pulando para não ser preso pelas cadeias da intriga,
prefiro ter toda a vida a vida como inimiga
a ter na morte da vida minha sorte decidida.

Sou viramundo virado pelo mundo do sertão,
MAS AINDA VIRO ESTE MUNDO EM FESTA, TRABALHO E PÃO,
virado será o mundo e viramundo verão
o virador deste mundo astuto, mau e ladrão,
ser virado pelo mundo que virou com certidão,
AINDA VIRO ESTE MUNDO EM FESTA, TRABALHO E PÃO."

Letra da música Viramundo de Gilberto Gil.


Laís, continua na luta.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Hermanos

Hoy escribo en español para contemplar nuestros compañeros latinos.
Hoy participé de una palestra con Aleida Guevara, “Cuba, Brasil e América Latina”,. Fue muy buena, es que me tembla el corazón cuado oigo álguien hablando español, es que mi corazón es latino...no hay como negarlo.
Ella dijo que socialismo es cuando un pueblo controla los medios de produción y las ganancias se vuelven a su proprio pueblo. No tiene nada que ver con comer chicos, o matar persona, o vestirse de rojo. Una sociedad diferente es posible. No quiero que lleven mi libertad, ni que me tomen mi casa, nada de esto... solo quiero que las personas no mueran más de hambre, que se tengan medicos dedicados, interesados en atender su pueblo, que se importen con ellos. Solo quiero que chicos no mueran más de desintería, o de sed. Educación es un derecho. Salud es un derecho. Y tenemos que luchar por eso.
Aleida dijo que no va a dejar que entren en su país y tomen lo que es de ellos y que ella esta preparada politicamente y militarmente para enfrentar estas personas. Nosotros aún no sabemos que significa eso porque vivimos en una cultura totalmente diferente, no sabemos lo que es sobrevivir con un bloqueo económico. Nosotros creyemos que tenemos que ser pacíficos, que quanto más violento somos, más violencia se cria. Seguro que sí. Pero, existe algo más violento que no tener dignidad? que morir literalmente de hambre? que no tener dinero para comprar un medicamiento que habria que tener en el hospital? La violéncia psíquica y emocional que sofremos todos los días nos mata poco a poco, y no percebemos eso. No podemos dejar que nos lleven todo lo que tenemos, todo que produzimos. Es que no podemos más con eso. Y tampoco podemos aceptar caridades, asistencialismos, necesitamos de políticas que no hagan autónomos, que seamos donos de nuestras próprias produciones. Es de esto que precisamos. No de armas, no de hambre, no de corrupción, no de todas cosas malas que se os dan todos los días.
Fuerza compañeros, precisamos ir a lucha! Y vamos juntos!

terça-feira, 9 de março de 2010

Frase do dia

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe as faces e me faz corar
E que me salta os olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo e me faz implorar
O não tem medida nem nunca terá
O que não tem remédio nem nunca terá
O que não tem receita.

O que será que será
Que dá dentro da gente que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrandos, toda alquimia
Que nem todos os santos

Será que será
O que não tem descanço nem nunca terá
O que não tem cansaço nem nunca terá
O que não tem limite.

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
E todos os tremores me vêm agitar
E todos os suores me vêm encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz suplicar

O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem juízo.

(Francisco Buarque de Hollanda)

quinta-feira, 4 de março de 2010

Eu não sei aonde vamos parar. Não sei mais até que ponto pode chegar a alienação social de alguem. Um ser me disse ontem que a pessoa que trabalha em sua casa estava muito doente e que só conseguira marcar o exame que precisa fazer para daqui a um ano. Ele, que gosta muito desta pessoa, vai conversar com não-sei-quem que conhece não-sei-quem-lá de não-sei-onde para tentar marcar seu exame mais cedo (será que consegue para 9 meses?!?!). Ao indagá-lo que não seria justo com a pessoa que marcou o exame para daqui a 11 meses, ouvi a solene resposta "a gente vai ajudando quem pode". Muito doce. Me mobilizou. Me mobilizou como que se pode ser tão idiota, tão simplista e tão inconsciente da realidade do SUS. Como que alguém acha que colocar uma pessoa na frente da outra vai ajudar em alguma coisa???? E quando ela precisar de outro exame, o que será feito? E se a pessoa que estiver na frente dela morrer antes por falta de atendimento?
Nosso sistema de saúde pública é precário e ninguém precisa dizer isso para que se saiba (apesar de que quem não o utiliza não sabe de fato o que é isso; não sabe o que é chegar 5:00 da manhã para pegar um ficha para marcar uma consulta para daqui a 3 meses, sendo que o atendimento é por ordem de chegada, e o médico mal-pago e mal-engajado com a situação, ao invés de chegar às 8:00, chaga às 11:00; não quem não passa por isso não sabe o que é, acha que as pessoas não vão ao médico por falta de informação, mas não é disso que estamos falando). Voltando, se alguém quiser mesmo ajudar essa pessoa a fazer seu exame logo deve pressionar a Secretaria de Saúde a comprar novos aparelhos, a dar manutenção nos que já tem, deve tirar a bunda da cadeira e correr atrás. O que não pode é passar pessoas na frente, aumentando os riscos de morte de outros, achando que está fazendo uma boa ação.
Mas, é verdade, não posso negar que é muito mais fácil achar que o sistema de saúde público brasileiro é ineficiente e que não se pode fazer nada.
Sociedade não existe, política não existe; são apenas conceitos abstratos criados pelas mesmas pessoas que fazem parte desta sociedade e agem politicamente.
Vamos ser honestos consigo mesmos e vamos admitir que se quisermos fazer alguma coisa de verdade para modificar nossa organização social, vamos ter que nos esforçar pelo menos um pouco.

terça-feira, 2 de março de 2010

Nossas escolhas.

Nós fazemos escolhas todas as horas do nosso dia. Que roupa usamos, que comida comemos, que hora saímos, etc etc etc. Nós também escolhamos o que vemos, o que lembramos. Temos uma memória subversiva que apaga de nosso cérebro que vemos pessoas que dormem na rua, que comem lixo, que não são abraçadas por ninguém em momento algum. Mas isso também é uma escolha nossa. Escolhemos não fazer nada, não porque não queremos, porque não há nenhum sádico aqui querendo ver o outro sofrer não, mas porque sozinhos não temos força. Escolhemos acreditar nisso. Escolhemos acreditar que ninguém mais tem a caixinha preta nas mãos.
Escolhemos nossos amigos, escolhemos ouvi-los ou não, escolhemos a preguiça, o cansaço do dia-a-dia em detrimento à redução da dor do outro. Enfim, somos seres de escolhas, por isso, atuantes. Podemos, também, sermos seres das escolhas do outro. Podemos sim, porque não. Mas obviamente que isto também é uma escolha sua.


Sim, você fez uma escolha. Até quando será um papagaio que tem voz?