quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Alternativa

Eu queria muito escrever sobre uma coisa, e já tinha elaborado algo em relação a ela, mas outro assunto tem demandado atenção agora.
Eu não me considero uma pessoa "modinha". Eu não sou do tipo que compra um roupa ou lê um livro porque está na moda. Pelo contrário, as vezes eu não compro uma roupa que gosto ou não leio um livro que pode ou não ser bom, só porque está na moda. O que no fundo, no fundo, é exatamente o mesmo erro, mas ainda preciso trabalhar isso melhor.
Está na moda gostar de pobre. Todo mundo agora faz trabalho social, voluntariado. É um tal de mandar emails divulgando ONGs, lares acolhedores etc etc etc.
Responsabilidade social é o que há de mais importante entre as responsabilidades, porque a partir do momento que você se preocupa com o bem-estar do outro, você cumpre com suas resposabilidades. Todo mundo deveria assumir sua culpa pelo estado em que as coisas se encontram e, com isso, assumir sua responsabilidade na mudança do todo.
O problema é que isso virou modinha.
Toda empresa agora tem responsabilidade social, ambiental, moral blá, blá, blá. Não porque é importante, não porque existem pessoas que sofrem, não porque nada, mas porque dá mais lucro. Aí passa a existir uma pregação geral de responsabilização que é meramente midiática e ilustrativa. E passamos a achar que reciclar o lixo e dar dinheiro pro menino que faz malabares no semáforo nos dará um lugarzinho no céu. Reciclar o lixo é importantíssimo, afinal existem pessoas que vivem da reciclagem de material, de fato. Mas dar dinheiro para a criança é pedir pelo amor de deus que ele continue ali para que eu possa continuar dando dinheiro para ele e me sentir aliviada porque faço minha parte. Isso não pode continuar assim.
Partindo desta perspectiva, o governo, que tem do DEVER a responsabilidade social, delega sua responsabilidade a estudantes mal assistidos para que eles finjam, tão bem quanto ele, que se importam com os mais necessitados.
Qual é a efetividade e a durabilidade das mudanças propostas por um programa de 2 anos de duração no qual os estagiários só precisam ir UMA TARDE na semana na comunidade?
Brincamos todos de nos reunir e planejar atividades inócuas e depois comentar com a família como foi boa a atividade, como somos bons para a sociedade, para o coletivo.
Desta brincadeira eu não quero mais participar. É muito cansativo brincar sempre do mesmo jogo. Quero brincar de outra coisa. Quero brincar com quem se importa de verdade.
Eu sei que eu não posso parar de lutar porque minha luta está na moda, assim como eu não posso parar de ler Saramago porque está exposto na porta da Saraiva. Mas eu não quero ninguém dizendo que "Ensaio sobre a cegueira" "é lindo!" só porque nos negamos a ver a barbárie.
Acho que, na verdade, o que eu preciso é encontrar um sentido para as coisas, se é que elas têm um.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Perspectiva

De volta à vida normal e ao raciocínio eloquênte, conseguir enxergar as diferentes perspectivas que podem existir acerca de um fato.
As perspectivas observadas de hoje serão a partir de uns assaltos que sofri em um curto intervalo de tempo.
Primeiro, como não poderia deixar de ser, acreditei que estas coisas acontecem, e vêm acontecendo com cada vez mais frequência devido a absurda desigualdade social em que vivemos. Se de fato existisse democracia, igualdade de oportunidades etc etc etc, teríamos uma sociedade muito menos violenta e angustiante.
Como consequência, cri que aumento no policiamento da cidade não iria resolver nenhum dos problemas e ainda iria aumentar a angústia diária que somos obrigados a sentir quando saimos de casa. Não se combate violência com mais violência, já que o disparador da violência é a própria violência (não dar direito à moradia, trablho, dignidade, alimentação, sobrevivência, aquelas coisinhas básicas que não podemos viver sem) - negar tais direitos a qualquer pessoa é a maior violência que se pode infringir a alguém.
Como segunda opção, podemos tirar um pouco de nossa responsabilidade (social) e jogá-la no sujeito-ação. Ele, dentro das poucas escolhas que tinha, escolheu ser ladrão, roubar e tal. A culpa não é toda dele, tadinho, porque ele não tem mãe, ou não tem pai, ou não tem qualquer coisa que pudesse instruir o caráter dele corretamente. Como já está corrompido seu caráter, podemos instaurar a pena de morte, e continuar com esta onda de violência que não tem mais fim.
Nesta opção, eu prefiro não acreditar.
Como última oção citada aqui, e como forma de nos isentar totalmente de qualquer responabilidade social, mas como pessoas de bom coração que somos, assumir toda a responsabilidade do fato para nós, podemos simplesmente achar que somos azarados, afinal, essas coisas não acontecem com todo mundo, somente com os azarados. Eu poderia ter saído um minuto mais cedo do restaurante, ou ter ficado um minuto a mais na festa, ou blá blá blá, ou lá lá lá, mas não, azarada como sou, não tinha jeito. A salução é tão simples quanto o problema: banhos de folha. Ah, não ha nada como banhos de folha, revigoram a alma, tiram as coisas ruins e devolvem nossa sorte. Como seria bom se todos os nossos problemas pudessem ser resolvidos como esse.
Então, licença, mas tenho que ir ali comprar umas folhas, pelo menos este problema já está resolvido. Os outros eu vejo mais tarde.