quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sobre a vida

A vida não pode - ou pelo menos não deveria - ser somente uma sucessão de dias (in)úteis.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A importância de sonhar

Eu já não sonho mais. Eu sonhava enquanto procurava um sentido para a vida. Não o encontrei e não sonho mais. Isso não significa que não faça mais planos ou que não pense como pode ser meu futuro. Mas não são sonhos: são planos – e como todos os planos, podem ou não dar certo, e não faz tanta diferença assim.
Mas uma vida sem sonho é uma vida triste. Não que eu considere minha vida uma vida triste, mas a expectativa do mundo é capaz de nos mover muito mais longe que mera racionalização da realidade. A realidade, assim como ela é dada, é insuportável. É somente a fantasia que nos faz suportar um mundo tão mitificado quanto este que nos tem sido dado.
Desmitificá-lo, entretanto, pode torná-lo tão duro quanto ele já o é. A mudança, todavia, é sempre uma possibilidade de sonho, uma possibilidade de se criar novos mitos para que a vida seja mais suportável. Acho que é aí que entra a importância do sonho. Só se constrói novos mitos para uma vida quando se acha que se pode mudá-la.
Por isso os sonhos nunca são pequenos. Quem pode dizer que o sonho de ser uma empregada doméstica de uma menina que mora na roça vale menos do que o sonho de ser princesa de uma menina que assiste os contos da Disney? Porque o sonho de ser motorista de ônibus provoca mais piedade que o sonho de ser piloto de avião?
São todos uma forma de mudar o mito em que se está inserido. As duas serão princesas se conseguirem entender como seus sonhos tem o poder de dignificá-las e os dois serão trabalhadores e participarão do mito coletivo de desenha este mundo.
O que não se pode esquecer, e normalmente se esquece quando se deixa de ser criança, é que a mudança é sempre possível. E o sonho nos faz confiar nisso. Viver sem saber que isto pode mudar, ou viver sabendo que isto é imutável e desesperador, e o desespero nos corrói, nos paralisa. Só somos seres de transformação à medida que nos movimentamos, e só nos movimentamos enquanto sonhamos.
O desespero só está aonde o sonho se perdeu.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Delicadeza

Me disseram uma vez que eu devia cuidar mais de minha delicadeza. Foi então que notei o quanto eu tinha vergonha dela. Eu sempre fui muito delicada e sempre soube disso, mas como isso me causava infinitas decepções, me escondia atrás de uma máscara. Não sei bem se esse verbo deve estar mesmo no pretérito imperfeito, talvez seja mais presente do indicativo mesmo, mas deixe eu achar que posso mudar.
Bem, eu (ainda) choro quando vejo um menino dormindo na rua, junto da mãe, que não é mais capaz de se sustentar nas próprias pernas quiçá uma família, com mais quatro filhos que tem poucas perspectivas de um futuro digno; me emociono quando vejo alguém chorar com o coração; me abalo quando vejo uma injustiça ou uma maldade e me incomodo muito quando vejo alguém ser incapaz de dizer um obrigado(a) a quem lhe fez um favor. Acho que essas características podem ser consideradas como parte de minha delicadeza. Mas disso que sempre soube.
O que me dei conta é da vergonha que sinto por ser assim. As lágrimas, a emoção, o desconforto são coisas que sou capaz de esconder, de negar para os outros. Mas aquilo que não posso esconder, como minha paixão pelo balé, meu tremendo amor por meus avós (ai de quem fale mais alto com eles), minhas palavras livres que escrevo aqui, por saber que só tenho dois leitores confiáveis, meus gestos espontâneos demais para serem controlados frente a algo que me mobiliza demasiado fazem meu rosto rubrecer e queimar de tanto desconforto.
Não sei exatamente porque...talvez pela delicadeza ser frágil e eu ter que mostrar uma postura dura, ou porque sempre que se baixa a guarda da dureza (ou seja, abre a guarda da delicadeza) alguém te invade e tenta te destruir, afinal, vivemos em um mmundo de guerra e não de amor.
A falta de amor é algo que me comove muito também, mas acho que isso ficará para um próximo dia, quem sabe.
Preciso sim, cuidar de minha delicadeza para que ela não suma diante das barbaridades que vemos e vivemos todos os dias. Mas, muito além disso, preciso assumir minha delicadeza e agir com ela. Com precaução, claro, mas talvez o amor de alguém consiga fazer algo de bom em alguém, porque não acredito que mal possa fazer.
Quem sabe assim eu consiga me expressar melhor no meu balé e tomar coragem para convidar alguém para me assistir. As mudanças são possíveis. Difíceis, mas possíveis.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Minha Dilma

Estava hoje conversando com uma amiga e lhe revelei que quanto mais eu conheço pessoas, mais eu descubro que elas são estranhas. Não estou falando de uma estranheza associada a uma não-normalidade, como diria Bauman, porque o conceito de normalidade é somente um construto, e como todo construto, socialmente elaborado e facilmente modificével.
À estrenheza que me refiro é de outra ordem. É a estranheza da dor, do egoísmo, da exploração, da humilhação... Freud talvez dissesse que essa é a natureza do homem, e se ele se comporta assim, é porque a sociedade (civilização) não tem feito seu papel direito. Não discordo totalmente de Freud, nem poderia, mas talvez eu precise achar isso tudo muito estranho. Não me custa nada o bem, o amor, a ajuda, o carinho, a atenção, a delicadeza, por que então isso parece custar tanto aos outros?
Por que não podemos nos preocupar com a dor do outro com o ituito de atenuá-la e não de acirrá-la? Por que não usar as palavrinhas mágicas, "por favor", "com licença", "obrigada(o)" etc? Por que não sorrir? Porque não retribuir? Por que cobiçar o outro em tudo o que ele tem, seu corpo, sua mente, seus bens, seus amigos, tudo, por que?
Eu não sei, definitivamente, a resposta para nenhuma dessas perguntas - aliás, estou partundo do pressuposto que existem repostas para tais questionamentos. Quanto mais eu leio, quanto mais eu pesquiso, quanto mais tento conhecer o comportamento das pessoas, mais me decepciono, mais me desiludo.
Não podemos mudar o outro, já temos muita dificuldade de nos mudarmos a nós, quiçá. Podemos ser, de repente, o reflexo de um pensamento, um olhar passageiro, uum rápido passar de tempo. A hipótese de que isso possa fazer alguma diferença é tão boa quanto a outra, a de não fazer diferença nenhuma (parafraseando Saramago).
Não sei mais o que pode acontecer. Preciso me agarrar a qualquer fio de esperança. Então vai, Dilma, faz o que pode, por favor.