segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dor de quem fica

Já sinto tanto a falta dele. Parece que foi alguém de minha família. Afinal, ele sempre esteve presente. Sempre atual, fazendo seus comentários irreverentes na televisão, nos jornais. Sempre com uma resposta na ponta da língua, e um livro no forno.
E foi assim que nos deixou. Inesperadamente e com um livro do forno. Um livro que eu ansiaria a chegada, que ganharia vários de ppresente por pedir a todos a mesma coisa, que me deleitaria e me divirtiria. Porque, mesmo nos mais densos, há humor. Humor de poucos, confesso, mas meu humor.
Mas assim como a saudade, a morte também é a dor de quem fica. Já não choro tanto, mas sinto a falta.
Hoje uma colega em sala anunciou que ia ler uma crônica de Rubem Alves. "Que bom, adoooro Rubem Alves", pensei. Então me veio sua imagem em minha mente e voltei a pensar "tenho que aproveitar mais ele, antes que se vá". Não estava agorando Rubem, claro que não. Mas, (in)felizmente, este é o destino de todos. "In" para os que ficam, feliz para os que vão. E quero aproveitá-lo mais, para não ter dor ao dizer que nunca o (ou)vi pessoalmente.
Mas meu Saramago não se foi por completo. Deixou muitas coisas para mim, escreveu muito para mim, e lhe sou grata por isso. Não gosto de santificar pessoas que morrem. Fazia isso quando ele era vivo. Sempre foi claro que era meu predileto, e continuará sendo, já que não pode mais me decepcionar.
Meu orgulho: defendia sempre as minorias. Que seja reconhecido.
Mas não se preocupe, meu querido, "el tiempo nos igualará".

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