terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Desmentindo um pouco daquilo que escrevi antes, estou desacreditando das pessoas. Cada vez mais é cada um por si. Tirando minha amiga do peito que está comigo para qualquer hora, e meu amor que se mostra incondicional para mim, eu não sei mais em quem confiar. Da família a gente sempre espera ajuda, talvez apoio, mas já não tenho tanta certeza.
Eu ainda tenho conhecido pessoas boas, solícitas, que querem realmente não atravancar seu caminho. Elas são mínimas no entanto. Não consigo entender como coisas tão simples podem custar tanto de serem feitas. Um "bom dia"; uma passagem no trânsito; uma conversa trivial; um olho-no-olho. Minhas esperanças de que isso pudesse mudar se foram junto com minhas esperanças de que "eu faço minha parte". Quanto mais "faço minha parte", mais isso me dói, mais me faz sofrer ver que 'eles' estão se tornando cada vez mais incapazes, e eu também.
Certa feita, uma colega na aula de sociologia disse que poderíamos mudar o país dando bom dia às pessoas na rua. Eu a escaldei então, fazendo um discurso político socialista-revolucionário. Errei.
De fato, um simples 'bom dia' não vai mudar o país, nem diminuir suas desigualdades sociais, nem acabar com a miséria, nem unir direita e esquerda. Um simples 'bom dia', entretanto, pode tornar as pessoas mais sensíveis, mais visíveis, mais interativas. Talvez esse 'bom dia' deixasse que esquerda e direita conversassem com um mínimo de civilidade para encontrar uma medida mais apropriada para as questões em pauta, e não um 'cada-um-defende-o-seu-e-os-outros-que-se-lasquem'.
Enfim, estou desacreditando das pessoas. Espero que minha profissão me ajude a ver o contrário; me ajude a ver que 'essas pessoas' estão escondidas no mais profundo de si, procurando uma brecha para virem ao mundo. Assim ainda espero.
E da próxima vez que alguém for discutir qualquer coisa, que comece com um simples 'bom dia'.

Um comentário:

  1. Adorei muito esse texto seu.
    De fato, acreditar nas pessoas está cada vez mais dificil. Todos nós temos muitos mundos pra dar conta num só dia, muitas cobranças por todos os lados, muitos horarios, muitas metas.. fica mesmo meio inevitável não voltar os olhos só para os nossos passos.
    Tudo fora do "meu", do "eu" fica meio opaco, meio carente de atenção. Acabamos deixando de lado infinitos aprendizados e preocupações, incontáveis oportunidades de contato com outras pessoas.
    Quando eu vejo algumas pessoas se desprenderem desse individualismo (as vezes forçado, outras vezes eleito) e se renderem ao "bom dia", ao contato, a ajuda, ao aprendizado, ao olho no olho... tenho a esperança em toda a humanidade refeita. Depois ela acaba sendo destruída de novo mas...
    Cada vez mais raro encontrar pessoas assim, cada vez mais difícil se comportar assim.
    Fica cada vez mais complicado fazer do tempo uma questão de prioridade, da diferença uma possibilidade de riqueza, do problema uma chance para a ajuda.
    Nunca foi simples, na verdade.
    O melhor caminho quase nunca é o mais fácil mas é sempre o que melhor recompensa.

    Que bom "essas pessoas" aparecem no meu caminho e abrem meus olhos e refazem minha esperança de vez em quando.

    ps: vc é uma dessas pessoas! ;*

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