quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Espelho virado pro céu

Não posso jamais negar a sensação de infinitude que o mar me traz. Eu poderia atravessar o mundo nadando e me cansar de tanta liberdade no meio do caminho e ficar por lá mesmo.
O rio possui as águas doces da doçura do mar, mas ele não é livre, nem pode ser. Ele segue sempre seu rumo, o mesmo rumo, e não desvia nunca. Eu me deixaria levar pela correnteza de um rio, mas não conseguiria esquecer que a qualquer momento poderia ficar presa em algum obstáculo do caminho. E há de haver obstáculos no caminho.
Não quero a prisão dos obstáculos, quero a imensidão da liberdade.
O mar é aquilo que vai além. É a amplitude, é a vastidão de possibilidades, a possibilidade de escolhas.
Há, claro, quem prefira o caminho certo, indicado, sem muitas escolhas: parar ali e esperar ou continuar para o fim certo. Resolve o conflito de uma pedra aqui, o incômodo de uma queda d'água ali, e assim vai. É sim mais seguro e mais confortável, mas não tem volta. Tem saída, mas não tem volta. Não tem passar por um lugar duas vezes porque o curso é unidirecional; ele só vai.
No mar, as vezes se cai em uma correnteza que não te diz aonde vai te levar, até que se percebe que se chegou em um lugar inimaginado; ou então, cai em um marasmo, e fica ali parado, a deriva, a espera de qualquer coisa que te impulsione; pode ainda seguir em uma direção, que não é progressiva ou regressiva, direitista ou esquerdista, porque o mar não tem direção.
O mar é a liberdade de que nos foi negada.

3 comentários:

  1. Mas todo rio corre pro mar. Passa um tempo rio e desagua... mar.

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  2. Para a sorte/(in)felicidade de alguns!!

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  3. Como uma consequencia da vida, Lai.
    Um dia o rio alcança o ponto de ser mar.
    Nem feliz, nem triste.

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