terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Acima de todas as coisas

Já estou cansada de ver e ouvir todas essas histórias de pessoas que superaram as dificuldades da vida e foram felizes para sempre.
Primeiro eu tinha pensado que se produzem esse tipo de história porque, em meu momento freudiano, a pulsão de morte sempre prevalece sobre a pulsão de vida, e a vida não é nada mais que um acaso, uma sorte. Assim, é necessário ficar reforçando sempre a importância da vida, da superação, do crescimento e desenvolvimento pessoal para que ninguém desista no meio do caminho e fique por lá. Viver é lutar diariamente e tem horas que precisamos de uma pausa. Duvido sinceramente que exista uma pessoa que nunca tenha pensado em desistir ou, pelo menos, em parar um pouco.
No correr do pensamento, cheguei a uma explicação um pouco melhor para mim: por tudo isso que foi dito anteriormente, o capitalismo, esse ser abstrato que rege e controla nossas vidas, precisa garantir a sobrevivência das pessoas para que elas possam continuar produzindo e consumindo. (Claro que quando o valor do produto é maior que o valor da vida, vendem-se produtos que destroem vidas, mas esses são os ossos do ofício). Como a vida é muito, muito mais dura para os mais importantes produtores/consumidores que se calam com a boca de feijão ao meio-dia, porque não tem outro jeito, precisa-se dizer para eles que se você quiser, você pode sair dessa situação. É tudo uma questão de esforço e dedicação.
Daí surgem Lulas, Marinas, Monas-Lisas que eram moradores do lixão e/ou de adjacências e galgaram um lugar no mundo.
Isso é tão mentira quanto a democracia nacional.
No censo de 2010, a população brasileira era de 190.732.694 habitantes, divididos em 67.557.424 domicílios. Considerando que aproximadamente 25% dos domicílios possuem uma renda maior que 5 salários mínimos (sendo que desses 25%, 9% dos domicílios possuem uma renda superior a 10 salários mínimos), 50.668.068 famílias, cerca de 142.883.952 de pessoas precisam lutar diariamente pela sobrevivência. Uma única pessoa que saia não muda a realidade dessas 142.883.951 pessoas que restam. Por isso se faz tanto esforço para fazê-las acreditar que qualquer uma dessas 142.883.951 pessoas que sobraram pode ser essa uma que saiu.
Mais fácil é jogar na mega-sena, mas como isso requer o dinheiro do leite, o melhor mesmo é trabalhar muito, acordar bem cedo, por é quem deus ajuda e confiar que você será o próximo.

"Pelo amor de Deus,
Não vê que isso é pecado desprezar quem lhe quer bem?
Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém abandonado pelo amor de Deus?"

Chico, eu também fico muito zangada.

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